A Cannabis Medicinal e Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais (PNE) exige uma abordagem individualizada e multidisciplinar, principalmente no contexto de condições neuropsiquiátricas complexas, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Indivíduos com TEA frequentemente apresentam desafios comportamentais e sensoriais que comprometem a adesão ao tratamento odontológico convencional, além de um risco aumentado para doenças periodontais e episódios de ansiedade intensa durante procedimentos clínicos.
Diante dessas particularidades, surge o interesse pela integração de outras estratégias terapêuticas, como o uso medicinal dos fitocanabinoides, no manejo odontológico desses pacientes.
Aspectos Neuroimunológicos do TEA e Desafios Odontológicos
O TEA pode ser caracterizado por déficits na comunicação verbal e não verbal, dificuldade de interação social, interesses restritos e comportamentos repetitivos. Em muitos casos, observa-se também ansiedade, irritabilidade e respostas exacerbadas a estímulos sensoriais, que dificultam tanto a avaliação clínica quanto a execução de procedimentos odontológicos.
Além disso, pacientes autistas tendem a apresentar hábitos orais atípicos, dieta cariogênica e dificuldades com a higienização bucal, aumentando a prevalência de doenças inflamatórias periodontais e infecções orais.
Na odontologia, o uso medicinal da Cannabis tem sido investigado com foco na modulação da dor, controle da inflamação, redução da ansiedade e promoção da homeostase imune – aspectos de grande relevância para o cuidado com pacientes com TEA.
O Sistema Endocanabinoide na Imunomodulação e Inflamação Periodontal
O Sistema Endocanabinoide (SEC) compreende receptores (CB1 e CB2), endocanabinoides (como a anandamida e o 2-AG) e enzimas metabólicas que regulam sua síntese e degradação. Na cavidade oral, há expressão significativa desses receptores em tecidos gengivais, células imunocompetentes e estruturas nervosas periféricas.
Estudos apontam o potencial terapêutico do Canabidiol (CBD) atuando como agente anti-inflamatório, interferindo na produção de citocinas pró-inflamatórias. Essa ação repercute positivamente no controle de doenças periodontais e na resposta cicatricial pós-operatória. Além disso, a ação do CBD pode promover analgesia controlando a dor, inclusive aquela associada à movimentação ortodôntica ou intervenções cirúrgicas.
Efeitos Ansiolíticos e Potencial de Adesão ao Tratamento Odontológico
A ansiedade é uma barreira significativa ao tratamento odontológico de pacientes com TEA. Neste contexto, o CBD destaca-se por seus efeitos ansiolíticos, mediados por receptores serotoninérgicos (5-HT1A) e sua capacidade de modular o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal.
Ao reduzir a hipervigilância e os comportamentos de evitação, o uso de CBD pode melhorar significativamente a experiência odontológica do paciente, aumentar a tolerância aos estímulos clínicos e facilitar intervenções em ambiente ambulatorial, minimizando a necessidade de sedação profunda ou anestesia geral.
No TEA, a aplicação do CBD tem um potencial em contribuir para:
- Redução da inflamação periodontal crônica.
- Alívio da dor associada a intervenções odontológicas.
- Promoção da cicatrização e homeostase tecidual.
- Diminuição da ansiedade e comportamentos autoestimulantes.
- Potencial redução do uso de fármacos sedativos convencionais.
A utilização de canabinoides, especialmente o CBD, representa uma ferramenta promissora na Odontologia, sobretudo no manejo de pacientes com necessidades especiais. Seus efeitos anti-inflamatórios, imunomoduladores, analgésicos e ansiolíticos oferecem possibilidades concretas para uma abordagem mais humanizada, segura e eficaz no manejo odontológico de pacientes autistas.
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Referência
Duarte MG, Ataíde JPL, Silva MCD, et al. Therapeutic Indications of Cannabis Sativa in Odontology for Autistic Patients: A Literature Review. Scholastic Medical Sciences 2.3 (2024): 1-5.