O uso terapêutico do Canabidiol (CBD) tem ganhado relevância clínica em diversas condições neurológicas e psiquiátricas. No entanto, um aspecto essencial que deve ser considerado pelos profissionais de saúde é o seu potencial de interação medicamentosa. De acordo com o estudo do Centro Australiano de Excelência Clínica e Pesquisa em Canabinoides, o CBD é metabolizado principalmente por enzimas hepáticas do citocromo P450, especialmente as isoformas CYP2C19 e CYP3A4 — enzimas também responsáveis pela metabolização de inúmeros fármacos comumente utilizados na prática clínica.
As interações podem ocorrer em diferentes fases da farmacocinética: absorção, distribuição e eliminação. Dependendo da natureza dessa interação, o resultado pode ser o aumento ou a redução das concentrações plasmáticas dos medicamentos coadministrados, o que afeta diretamente sua eficácia e segurança. Além disso, o próprio CBD pode ter sua ação modificada pela presença de outros compostos ativos.
Evidências em contextos clínicos
A coadministração de CBD com anticonvulsivantes e estabilizadores de humor é relativamente comum, especialmente em quadros de epilepsia refratária e transtornos afetivos. Em casos como o uso combinado de CBD com opioides, como a morfina, os resultados foram promissores: observou-se um efeito sinérgico sem alterações significativas nas concentrações cerebrais ou plasmáticas da morfina, o que sugere um aumento na eficácia analgésica sem aumento de toxicidade.
Já com psicotrópicos, os achados são mais complexos. O metabolismo da fluoxetina, por exemplo, parece ser pouco afetado pelo CBD. Em contrapartida, os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) citalopram e escitalopram apresentaram inibição metabólica significativa quando administrados com CBD, o que pode elevar suas concentrações plasmáticas e potencializar efeitos adversos.
Outras interações relevantes incluem o aumento das concentrações de Tetrahidrocanabinol (THC) quando associado ao CBD, o que pode intensificar os efeitos psicoativos, além de relatos de elevação nos níveis de lítio, um fármaco de margem terapêutica estreita. Também foi observada uma possível extensão da meia-vida da cafeína em determinados contextos de dose e formulação do CBD.
Considerações práticas para prescrição segura

As interações entre CBD e outros fármacos dependem de múltiplos fatores, incluindo a dose, o regime de administração, a formulação do produto e a via de administração. A variabilidade individual, especialmente no que diz respeito à expressão das enzimas do citocromo P450, também exerce papel fundamental.
Diante disso, é essencial que a introdução do CBD em esquemas terapêuticos ocorra com acompanhamento clínico adequado, preferencialmente com o suporte de profissionais familiarizados com a farmacologia dos canabinoides. O monitoramento terapêutico de fármacos pode ser indicado em casos específicos, principalmente quando há risco de toxicidade.
Em resumo, embora o CBD apresente um perfil terapêutico promissor, sua administração deve ser feita com cautela, especialmente em pacientes que já fazem uso de medicamentos com metabolismo hepático compartilhado. A individualização da terapêutica e o acompanhamento clínico contínuo são fundamentais para garantir segurança e eficácia no uso do Canabidiol.
Quer se aprofundar na prescrição segura e eficaz da Cannabis Medicinal?
A mentoria da Vigo Academy é voltada para médicos, profissionais da saúde e dentistas que desejam iniciar ou já atuam com a prescrição de Cannabis Medicinal.
Com aulas avançadas, conteúdo científico de excelência e casos clínicos reais, os participantes são acompanhados por prescritores experientes, que compartilham as indicações terapêuticas da Cannabis sativa L. com segurança e embasamento.
Garanta sua vaga e transforme sua prática clínica com conhecimento de ponta!
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
Graham, M., Martin, J. H., Lucas, C. J., Murnion, B., & Schneider, J. (2022). Cannabidiol drug interaction considerations for prescribers and pharmacists. Expert Review of Clinical Pharmacology, 15(12), 1383–1397. https://doi.org/10.1080/17512433.2022.2142114